Ao longo da caminhada, já ouvi muito coisas do tipo: “Não gosto de gente que faz tudo no improviso!”. O termo improviso é comumente associado a desleixo, despreparo e inconsequência.
Tudo errado…
Não, improvisar não é bagunça. É construir respostas em tempo real com uma precisão apenas possível quando a base é muito sólida.
O exemplo mais popular é o jazz. Neste estilo, um solo não nasce do nada: ele é fruto de anos de prática deliberada, muito ouvido e domínio de padrões musicais que permitem justamente burlar estes padrões e criar algo de momento.
Para desafiar qualquer padrão, é preciso CONHECÊ-LO. E profundamente.
Quem lembra do famoso “Sai de Baixo? As pedradas de Miguel Falabella não eram brincadeira solta. Coordenação, timming, escuta e confiança no grupo. Tudo isso por trás de uma fala inteira de improvisos. O elenco infartava de rir.
Só pode ousar quem domina o contexto e a técnica.
Segundo a Neurociência, ao improvisarmos, áreas ligadas à autocensura relaxam, enquanto redes de expressão e movimento são ativadas. Isso não significa descontrole, e sim uma mente treinada para resolver.
Improvisação é sinônimo de repertório.
Tudo estudado, narrativas treinadas, processos absorvidos. É o resultado de um acúmulo técnico e cognitivo que permite responder intuitivamente sob pressão, sem paralisar. Faz parecer natural algo inconscientemente estruturado.
Improvisar exige o que?
Técnica dominada, frieza para lidar com crises e ambiente seguro para arriscar. É disciplina que dá liberdade. O profissional que encontra no caos soluções criativas não está inventando nada. O plano já está profundamente incrustrado em cada célula do corpo, esperando para entrar em ação.
Temos uma tendência ao controle por meio de padrões. Improvisar não é desordem. É a ordem em seu estado mais criativo.
E aí? no vídeo, você acha que o pianista japonês Keichan improvisou porque é somente espirituoso ou porque é brutalmente preparado?
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